O mestre da vida não era apenas seguido por inúmeras
pessoas, mas causava algo no território da emoção delas. Elas se apaixonavam
por ele. Numa terra em que imperava o
medo, a labuta social e as incertezas da vida, o amor floresceu como na mais
bela primavera. Quem ama as pessoas desprezadas como ele amou? Quem acaricia
os humildes de nossa espécie e os honra como seres humanos ímpares? Quem empresta seu tempo, sua
atenção, sua emoção para aquecer os feridos de alma? Com suas palavras simples
e profundas o mestre golpeou drasticamente não apenas os fariseus, mas todos
nós.
O egoísmo, o orgulho e o individualismo são “vírus” da alma que nunca morrem. Você pode
controlá-los, mas nunca eliminá-los. Se não os combater continuamente, eles um
dia eclodirão sorrateiramente, infectando nossa emoção e nos distanciando das
pessoas. Jesus criticava contundentemente a falta de humanidade dos fariseus e dos
mestres da lei. Opunha-se ao julgamento preconcebido que faziam das
pessoas, à arrogância deles; mas sua
crítica não era grosseira, mas suave. Ele usava simples e sábias parábolas para
os incentivar a pensar e reciclar os
fundamentos de suas vidas. Os fariseus lavavam as suas mãos antes de comer, mas
aceitavam que o lixo psicológico
entulhasse suas vidas. Eram ousados em apontar o dedo para os erros dos outros,
mas eram tímidos para reconhecer suas próprias fragilidades. Todos os que não
têm coragem para apontar o dedo para si mesmos nunca corrigirão as rotas da sua
história.
Ninguém que andava com o mestre de Nazaré vivia se
martirizando. Até uma prostituta sentia-se aliviada ao seu lado. Algumas derramavam lágrimas
sobre ele, por tratá-las com tanto amor, por dar continuamente uma oportunidade
a elas. Será que as pessoas se sentem aliviadas ao nosso redor? Será que lhes
damos condições para que elas rasguem a sua alma e nos contem seus problemas?
Não poucas vezes, ao ver a queda das pessoas, as criticamos ao invés de
ajudá-las a se levantar.
O mestre de Nazaré não dormia com seus inimigos, pois nenhum
homem era seu inimigo. Os fariseus podiam odiá-lo e ameaçá-lo, mas todo o ódio
de um homem não o qualificava para ser seu inimigo. Qual a razão? A razão era
que ninguém conseguia transpor sua capacidade de proteger a sua emoção. Não
permitia que a agressão dos outros tocasse sua alma.
O mestre dos mestres
não se deixava ser invadido pelas njúrias, calúnias, frustrações e violência
dos que o circundavam. Ele viveu a bela frase de Galileu Galilei: “Devemos escrever os benefícios em bronze e
as injúrias no ar”. Nenhum comportamento humano comprometia a sua paz e o fazia
desanimar. Era livre no lugar em que mais facilmente somos prisioneiros, livre
em sua emoção. Por isso, diferentemente de nós, jamais cortou
das páginas da sua história as pessoas que o feriam. Sua calma deixava todos
atônitos. Mesmo em face da morte era possível vê-lo governar, com
tranqüilidade, seus pensamentos. Sua coragem mudou a história.
Como mestre da mansidão, ele conseguiu produzir idéias
brilhantes num ambiente onde só havia espaço para sentir intensa ansiedade. Ao
ser amável com seus inimigos, ele cumpria as suas palavras sobre dar a outra
face. Entretanto, dar a outra face não era nem de longe um sinal de submissão e
de fragilidade, mas de força inigualável. Os líderes de Israel tinham insônia
por sua causa, embora dormissem em camas confortáveis. O mestre do amor dormia
tranqüilo, embora tivesse o chão como cama e
uma pedra como travesseiro. Que lição de vida! - Augusto
Cury
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