por Márcio Rosa da Silva
Alguns antigos pregadores usavam a seguinte expressão: “Uma gota de mel
atrai mais moscas do que um barril de vinagre”. Afirmavam isso para dizerem que
uma mensagem de amor e compaixão atrai mais pessoas que mensagem de medo e
juízo. Quanto às moscas é verdade, mel atrai mais do que vinagre, mas, quanto
ao caráter metafórico da frase, é um grande equívoco. Infelizmente.
Não, uma mensagem de amor e compaixão não atrai mais pessoas do que a de
ameaça e medo. O discurso que incute medo é muito mais eficaz para “fidelizar”
pessoas num grupo religioso. O pavor diante de um possível castigo divino é um
excelente instrumento para subjugar, para manipular pessoas.
Para aprisionar alguém, basta incutir-lhe medo. É assim em todas as áreas. O
funcionário que tem medo de perder o emprego será absolutamente subserviente ao
seu patrão. A mulher apavorada pelas ameaças do marido agressor ficará sempre
quieta diante da violência que sofre. A criança que sofre violência sexual
sempre tem medo de o abusador lhe causar mal ainda maior e, por isso, tem
dificuldade em denunciar.
O medo é paralisante.
Também nos movimentos religiosos. Funciona assim, determinado grupo afirma
que é o portador dos “tíquetes” para entrar no céu e, fora daquela instituição,
ou crendo de um jeito diferente do que ali é ensinado, o sujeito está fora do
céu. Logo, está condenado ao inferno. Não foi à toa que a religião foi chamada
de ópio do povo. Conseguindo fazer as pessoas acreditarem assim, elas ficam
apavoradas ante a ameaça do fogo eterno e, assim, facilmente manipuláveis.
Escravas.
São grupos que acreditam ter o monopólio de Deus e da salvação, como se Deus
tivesse alguma religião ou fosse membro de carteirinha de alguma igreja.
Já a mensagem de Cristo é de amor. E no amor não há medo. Se há medo, não há
amor. É uma mensagem libertadora. Uma mensagem inclusiva, que abraça aqueles
que eram considerados uma abominação para a religião dominante. Todos são
considerados dignos. Aqueles que eram marginalizados pelos zelosos intérpretes
da lei eram abraçados pelo Cristo que não fez discriminação de pessoas.
E o amor pressupõe liberdade, mas nem todos gostam de liberdade, porque ela
traz consigo a responsabilidade pelo rumo de suas vidas. Já não se pode culpar
a Deus ou ao diabo por tudo. É necessário, com a liberdade, enfrentar a vida
sem o pavor das ameaças, ou sem o interesse egoísta de se locupletar pela fé,
mas com coragem e lucidez. E há também aqueles que não gostam de ver a
liberdade dos outros.
Não foi sem razão que decretaram a morte de Jesus. A liberdade não faria bem
para estruturas escravizantes. Mas faz um bem enorme a quem realmente abraça a
mensagem do Evangelho, com a leveza da graça, a doçura do amor e os bons ares
da liberdade.
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