Desviado?

Por Dinho
Uma pena constatar, que ainda persiste o pensamento equivocado em alguns religiosos, de que não estar ligado a nenhuma instituição religiosa, é sinônimo de estar afastado de Deus, ou “desviado”, palavra que os tais defensores das instituições usam para se referir, de forma pejorativa, a todos que não andam conforme suas cartilhas e não assinam embaixo dos seus estatutos. Como se a instituição fosse intermediária entre homens e Deus, e como se só quem tem cargos e títulos reconhecidos ou fornecidos pela instituição, fosse reconhecido diante dEle. 

Quando muitas vezes, as instituições impedem que pessoas se relacionem verdadeiramente com Deus, porque já possuem outros “deuses” ou “ídolos” que ocupam o Seu lugar, na forma de pastores, bispos, apóstolos, profetas e etc, que muitas vezes exigem adoração e devoção irrestritas, por parte das pessoas. Exigem para eles a honra que só é devida a Deus. Pastores/bispos/apóstolos que agem como “donos” de igrejas, autoritários, e alguns que, apesar do título de “pastor”, não cuidam de ovelha nenhuma, porque vivem viajando ou viram políticos.

Um dia, quem sabe, estes religiosos, que defendem a instituição como se fosse ela a “igreja”, como se a “igreja” fosse o prédio e a organização, com CNPJ e cargos remunerados, e não pessoas que compartilham a mesma fé, estejam elas onde estiverem, entendam que esse tipo de argumento pejorativo, não vai levar nenhum suposto “desviado” de volta para debaixo dos seus telhados. Nem todo “desviado” se sente afastado de Deus como esses religiosos dizem que todos estão, por não estarem se juntando debaixo de um telhado eclesiástico, então porque voltariam? O fato de se reunirem em casas ou outros lugares que não seja o telhado eclesiástico, que eles, os religiosos, acham melhor do que qualquer outro telhado (porque é o telhado deles, claro), não implica que estejam vivendo “graça barata” ou “evangelho light”. Muitas vezes é exatamente o contrário. 

Consideram esses que recusam seus telhados eclesiásticos, o “pior” tipo de “desviado”. Será mesmo que são todos “desviados” e do “pior” tipo? Será? Tenho sérias dúvidas a respeito disso.

Igreja é uma só, e dela fazem parte todos os discípulos de Jesus, não interessa sob qual telhado se reúnem, ou se não se reúnem sob nenhum telhado. Como poderia ser diferente? Se só existe uma cabeça, que é Jesus, só pode haver um corpo, certo?

E se há religiosos que defendem a instituição, tendo por motivação, ainda que oculta, o fato de que são sustentados por essa instituição, estão falando em causa própria, e não porque se preocupam com a vida espiritual dos supostos “desviados”, a qual eles, com certeza, não conhecem. Do contrário, não usariam esse tipo de argumento. Vivem de conferências, seminários, congressos e o escambau (algumas instituições já têm até agências de viagem próprias, para levar pessoas aos seus próprios eventos, congressos, seminários e conferências), onde falam apenas uns para os outros, enquanto pessoas continuam morrendo do lado de fora dos seus anfiteatros, hotéis de luxo e salões de eventos.

 E ainda se julgam no direito de rotular alguém de “desviado”. Líderes religiosos, que, por exemplo, organizam e incentivam os crentes a participar de eventos caríssimos em Israel, nem que seja preciso se endividar com o cartão de crédito ou cheques pré-datados, deviam olhar para si mesmos antes de dizer que os outros é que são desviados. Qual a finalidade de se fazer em Israel, um evento onde tanto preletores quanto a plateia, são brasileiros? Eu prefiro muito mais o evangelho simples, a essa “indústria gospel” que apesar de movimentar milhões de reais, não sacia as necessidades espirituais das pessoas (nem as necessidades dos materialmente necessitados), e que agora envolve também “turismo gospel”, e isso inclusive entre os mais fundamentalistas.

Argumentação fraca, sem conexão com a realidade, apelativa e lamentável.             

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